Quem são os verdadeiros amigos da Coreia do Norte?
A luta ideológica contra o fetichismo, o oportunismo e o liberalismo infiltrado na solidariedade socialista à RPDC.
SÃO PAULO (SP) — O Movimento Comunista Internacional (MCI) está adentrando em um novo momento de luta ideológica, acumulando forças para superar as consequências organizativas e teóricas da queda temporária da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e do bloco socialista como um todo, em que a República Popular Democrática da Coreia (RPDC) continua a ser alvo de uma das mais longas, sistemáticas e brutais campanhas de difamação já realizadas contra um Estado soberano. É mais necessário do que nunca perguntar: quem são os verdadeiros amigos da Coreia nessa conjuntura?
Essa pergunta carrega em si um peso histórico e político. Porque, em nome da amizade com a Coreia, tem-se praticado de tudo no terreno internacional: desde o mais honesto apoio internacionalista proletário até o mais grotesco espetáculo de vaidade, fetichismo ideológico, projetos personalistas individuais e conivência com forças que, na prática, se colocam ao lado do inimigo da Coreia Popular e suas fundações políticas. É chegado o momento de separar em uma forma de declaração de princípios o conteúdo real da fraseologia vazia.
O fetiche com a Coreia e os falsos amigos do socialismo
Como expôs Lênin em sua crítica aos “Amigos do Povo”, não há ideologia mais perigosa do que aquela que fala em nome do povo, enquanto serve, de fato, aos interesses da reação. Hoje, sob outras roupagens, vemos um fenômeno semelhante: indivíduos e grupos diversos que se apresentam como “solidários à Coreia”, mas cuja ação concreta revela profunda hostilidade aos fundamentos ideológicos da revolução coreana, da qual se firmou através da luta contra o fascismo, o imperialismo e seu genitor — o modo de produção capitalista.
Usam a bandeira da RPDC e os símbolos do Partido do Trabalho da Coreia (PTC) como adorno, como fetiche, como parte de uma cena estética, como instrumento de distinção pessoal ou rebeldia sem princípios, até mesmo “valor de choque” — mas rejeitam o marxismo-leninismo, não conhecem a ideologia Juche, desprezam a luta de classes, flertam com teorias racialistas, eugenistas, escondem em sua “militância” (se é que pode sujar o bom termo “militância” para descrever a atividade hostil destes indivíduos) elementos fascistas, sionistas ou liberais mascarados de internacionalistas.
A parte mais lamentável é que não estamos diante de exageros. Há casos documentados de organizações de “amizade à Coreia” (nacionais e internacionais) que, sem qualquer critério ideológico rigoroso, ou para dizer o mínimo consistente, abrem suas portas a nacionalistas reacionários, xenófobos, racistas assumidos, defensores do sionismo colonialista genocida. Todos “bem-vindos” desde que saibam repetir algumas palavras-chave, repetir palavras de ordem, tirar fotos com bandeiras, colecionar posters de propaganda política ou participar de alguns eventos e liturgias místicas.
Não é raro, no cenário político brasileiro, observarmos dentro dos quadros — ou nas franjas — da social-democracia representada pelo Partido Democrático Trabalhista (PDT) e pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), tanto elementos honestos quanto reacionários camuflados. Entre os primeiros, destacam-se figuras como o Deputado Federal Paulo Ramos (PDT-RJ) e o Vereador Leonel Brizola Neto (PSOL-RJ), cujas posturas, embora limitadas teórica e estrategicamente, demonstram, por vezes, uma sensibilidade justa diante de causas populares e anti-imperialistas como a da Coreia do Norte. Porém, é igualmente necessário apontar — e combater — as infiltrações oportunistas e reacionárias que se escondem sob a fachada de “amizade” com a Coreia.
No PDT, em particular, se destaca o grupo infiltrado Nova Resistência (NR), agremiação que recicla ideias irracionalistas, pós-modernas e tradicionalistas, de matriz duginista e reacionária, mascaradas de nacionalismo anti-globalista, mas absolutamente hostis à classe trabalhadora e à revolução proletária. Vemos, da mesma forma, a atuação do Partido da ‘Causa Operária’ (PCO), agrupamento trotskista-fascista que, sob a máscara de “radicalismo revolucionário”, tem se transformado cada vez mais num instrumento da extrema-direita, agindo abertamente como escudeiros do fascismo, sabotando a unidade da classe operária e promovendo ataques à esquerda consequente. Não merecem respeito, tampouco espaço, entre os que verdadeiramente lutam pela revolução socialista, como a praticada pela RPDC.
O suposto “apoio” que tanto a NR (em adjunto a uma maioria do PDT) quanto o PCO oferecem a processos revolucionários, como o da Coreia Popular, não passa de encenação oportunista, sustentada por malabarismos teóricos e acrobacias ideológicas que nem mesmo os norte-coreanos defendem. São falsificações grosseiras do marxismo, caricaturas que distorcem o conteúdo histórico e político da experiência coreana, convertendo-a ora em fetiche estético, ora, principalmente, em instrumento de autopromoção política. Tais “apoiadores” não compreendem nem respeitam a substância ideológica do socialismo na Coreia; seu objetivo é apenas capturar prestígio, inflar seus círculos de influência simbólica e ornamentar suas posições com bandeiras alheias à sua prática real.
Portanto, nossos disparos e golpes mais fortes da nossa artilharia devem concentrar fogo tanto no inimigo declarado — a burguesia e seu aparato de dominação —, quanto nos inimigos mascarados de amigos. Que sejam enviados ao inferno e desmascarados — não há nenhuma possibilidade de conciliação com eles! Devem ser denunciados, expostos e politicamente derrotados. Não há espaço para colaboração e bilaterais com grupelhos que transformam a solidariedade internacionalista em espetáculo de vaidades, e a revolução socialista numa caricatura, nem a eles, nem a ninguém que subordina a política coreana à projetos personalistas e caudilhescos. Não há internacionalismo onde predomina o narcisismo de pequenos círculos em busca de notoriedade na “cena cultural”. O critério que nos guia é o da luta de classes, não o da autopromoção — e, por isso mesmo, não hesitamos em denunciar e romper com os projetos alheios ao socialismo, que funcionam como cães-de-guarda da reação.
A luta por um novo Internacionalismo Proletário
O surgimento da Liga de Amizade com a Coreia (KFL) após a ruptura com o racismo e as incontáveis posturas espúrias, incontornáveis e oportunistas do espanhol Alejandro Cao de Benós na arena internacional da solidariedade à Coreia, representa não apenas uma alternativa organizativa, mas um rompimento teórico radical com esse processo de putrefação ideológica oportunista de direita.
No Brasil, urgiu a necessidade de reconstruir a amizade com a RPDC com base nos princípios da luta comunista internacional sob critérios historicamente desenvolvidos na tradição do pensamento marxista-leninista e seus clássicos (Marx, Engels, Lênin e Stálin) e na ideologia Juche constituída no PTC através dos camaradas Kim Il Sung, Kim Jong Il e atualmente pelo camarada Kim Jong Un; da formação política-cultural comunista, moral e éticas revolucionária, e do apoio real às causas da libertação nacional e internacional. Não é uma “associação cultural” sem critérios ou ideologia clara, é uma associação de solidariedade armada da ciência avançada do proletariado e de convicção ideológica na estratégia e táticas comunistas, da qual busca, através da amizade aos camaradas da Coreia do Norte, apresentar e estimular a organização revolucionária comunista — para que tenhamos novos recrutas e soldados prontos à lutar nas fileiras do Partido Comunista, na vanguarda e nas frentes de massas; esses são os fundamentos de uma amizade real, concreta e sólida com os interesses internacionais da RPDC.
Se é para ser amigo da Coreia Popular, que sejamos dignos de sermos seus melhores amigos, como são os comunistas coreanos: amigos altruístas, fiéis e generosos, sensíveis e abnegados; preparados para a luta política, organizados no estudo teórico firme e resoluto por toda a vida; firmes defensores da paz e dos valores revolucionários de entrega de sua vida aos interesses das massas; na solidariedade desinteressada, na prática e coerência com a luta e cultura de seu próprio povo. Não há amizade verdadeira que se sustente em cima de ignorância, idolatria barata ou oportunismo.
Devemos ser dignos de uma amizade internacionalista verdadeira
A solidariedade entre os povos não é um afeto estético romântico, nem uma relação meramente diplomática, mas o resultado do ganho de uma consciência política, de esclarecimento. É um laço de camaradagem entre lutadores, fundado na compreensão das leis objetivas da luta de classes e da história internacional. Por isso, a verdadeira amizade com a Coreia é inseparável da luta pela revolução socialista em nossos próprios países.
Quem “defende” a RPDC sem lutar contra a burguesia nacional é apenas um quinta-colunista — pois a amizade internacionalista com a Coreia não pode subsistir com a aliança ou conciliação com a classe que detém o controle dos meios de comunicação — jornais, revistas, canais de televisão, sites, blogs, estúdios etc. — que difamam a Coreia Popular, nem com quem financia e age como reserva internacional dos grupos locais na península coreana que querem destruí-la. Quem exibe as conquistas do povo coreano sem organizar os trabalhadores em sua própria pátria, sem combater o imperialismo e a burguesia no Brasil, sem denunciar a conciliação social-democrata e o revisionismo contemporâneo, está fazendo algo pior que o turismo ideológico, mas agindo como um quinta-colunista, muito semelhante aos grupos trotskistas entre os anos 1930-1950.
E para isso, não basta “gostar da Coreia” e de sua estética militar disciplinada, oriundas da experiência histórica da política Songun. É preciso estudar o processo revolucionário coreano em suas fundações radicais, isto é, em suas relações de produção e nas transformações de suas forças produtivas. Compreender sua história, suas rupturas, suas dificuldades reais (tanto no passado quanto atuais), seus limites e suas vitórias. É preciso mergulhar na experiência do Exército Popular da Coreia (EPC), do camarada Kim Il Sung, na reconstrução socialista pós-guerra, nas formulações graduais e históricas do Juche, na economia planificada, na organização partidária, na resistência à sabotagem imperialista. Só assim surgirão, no Brasil, ardentes internacionalistas, militantes capazes de construir uma revolução com os olhos no horizonte coreano, mas com os pés cravados na realidade nacional brasileira.
A muralha metafísica dos oportunistas entre conteúdo e forma
Há um erro fundamental cometido por grande parte daqueles que, em nome da amizade com a Coreia, buscam transformar a RPDC num símbolo estático, numa imagem exótica ou numa caricatura do que seria “um Estado forte”, “disciplinado” ou “resistente ao Ocidente”. Este erro consiste em separar violentamente a forma estética da revolução coreana de seu conteúdo filosófico e social real.
Como numa nova Muralha da China, esses elementos constroem uma barreira entre o conteúdo socialista da experiência coreana e suas expressões culturais, visuais ou cerimoniais. Enxergam a disciplina do povo coreano, sua unidade, seus rituais políticos e até sua arte como fenômenos isolados, como se fossem apenas “curiosidades de um regime exótico”, e não expressões de uma base material concreta, organizada sob os princípios do socialismo, do marxismo-leninismo e da ideologia Juche.
Dissociam a estética do militarismo revolucionário da RPDC de sua essência política enquanto Estado de ditadura do proletariado em construção socialista, tratando uniformes, marchas e desfiles como fetiches vazios ou como instrumentos de uma suposta “ordem conservadora”, quando na verdade são expressões avançadas e progressistas de um povo em armas, que vive sob cerco imperialista há mais de sete décadas e que construiu, com sangue e trabalho coletivo, uma nação soberana onde antes havia colônia, fome e ocupação militar.
Esses falsos amigos da Coreia rejeitam a totalidade dialética. Não pensam historicamente. Agem como espectadores, não como revolucionários. Ao invés de compreenderem que a forma política da RPDC é expressão necessária de seu conteúdo de classe e de sua história revolucionária, escolhem estetizar a revolução coreana, ou então usá-la como espantalho contra as lutas do próprio povo. Essa posição é, em essência, reacionária e profundamente idealista.
O materialismo dialético nos ensina que não há forma sem conteúdo, nem conteúdo que não se manifeste por formas determinadas. Na Coreia Popular, a unidade monolítica do partido e da sociedade, a simbologia revolucionária, o culto aos mártires, o hino ao trabalho coletivo e à liderança revolucionária não são signos vazios: são a forma concreta que assume a hegemonia de uma classe operária que tomou o poder, o defende com armas e o constrói com as mãos.
Portanto, separar a forma coreana de seu conteúdo socialista é como separar a casca do fruto e dizer que a fruta “não tem gosto”. É como elogiar o monumento, mas negar a memória ideológica, a teoria política científica de luta que ele encarna. É um método burguês, uma operação ideológica sistemática de ocultamento.
Contra isso, devemos afirmar com firmeza: não há revolução sem forma revolucionária — e não há forma revolucionária sem conteúdo de classe! A estética da Coreia Popular é a estética de um povo em guerra de resistência, de um país reconstruído sob ocupação, de um Estado que nunca se ajoelhou. Aqueles que enxergam apenas a casca, jamais entenderão a seiva que corre dentro daquela sociedade.
Praticar o internacionalismo mais ardente
O que está em questão aqui não é a legitimidade da revolução coreana, mas a nossa própria dignidade enquanto comunistas, marxista-leninistas e revolucionários consistentes, enquanto praticantes do internacionalismo proletário. A RPDC não precisa de bajuladores, aduladores de regimes contra-hegemônicos, colecionadores de broches, medalhas, posters — ela precisa se sentir que está junto aos povos oprimidos do mundo. A Coreia Popular precisa, como sempre precisou, de aliados firmes, de comunistas consequentes, de militantes internacionalistas prontos para combater o inimigo comum: o imperialismo e também o capitalismo.
A Coreia Popular resistirá com ou sem nossos discursos, pois o povo está unido em torno do PTC com o camarada Kim Jong Un à frente. Mas nós só seremos dignos de sua amizade se soubermos resistir e conquistar a vitória socialista também em nosso próprio país, nos diferenciando diretamente dos quinta-colunistas e oportunistas que querem usar a estética norte-coreana como adorno decorativo de sua degeneração ideológica. Resistir ao fetichismo infantil, ao revisionismo, à confusão ideológica, à capitulação, ao oportunismo pequeno-burguês disfarçado de solidariedade.
Como ensinou o camarada Enver Hoxha, Primeiro-Secretário do Partido do Trabalho da Albânia (PTA) e um ardente internacionalista: “Lênin acentua que a revolução é obra do povo de cada país, que ela não se exporta. Isso não significa que os marxista-leninistas, onde quer que militem, não se sintam solidários, mutuamente ligados pelos sentimentos do mais puro internacionalismo proletário e não ajudem a luta do proletariado e dos povos dos demais países por sua libertação. Pelo contrário, todos os comunistas, todos os proletários, todas as forças revolucionárias dos diferentes países têm o dever de auxiliar a revolução em cada país em particular e em todo o mundo, com propaganda, com agitação, com ajuda material, com seu exemplo de decisão e abnegação e seguindo fielmente o marxismo-leninismo. Evidentemente, o aproveitamento exitoso desta ajuda depende antes de mais nada da preparação do proletariado e de seu partido, do desenvolvimento da luta revolucionária neste ou naquele país”.
Sejamos, portanto, verdadeiros amigos da RPDC, seus melhores amigos — aquele que a defende quando é atacada, que a estuda, que se preocupa com ela e o bem-estar de seu povo, não por romantismo, mas por convicção de que esse é o caminho certo, que a afasta dos oportunistas, bajuladores e carreiristas, por solidariedade altruísta de classe, por lealdade revolucionária aos nossos princípios teóricos e científicos. E que a Liga cumpra seu papel: formar amigos sinceros, internacionalistas sensíveis e ardentes, comunistas abnegados, preparar o terreno para a revolução socialista brasileira. Esses são os verdadeiros amigos da Coreia Popular.
